O povo indígena Aranã em Minas Gerais
O povo Aranã também tem sua origem na história dos Botocudos. Distinguiam-se, no entanto, politicamente, de outros grupos Botocudos, mantendo inclusive uma pequena variação dialetal, significativa da distância que mantinham estrategicamente, como forma de reafirmarem sua diferença dos demais. Os Aranã foram aldeados pelos missionários capuchinhos em 1873, no Aldeamento Central Nossa Senhora da Conceição do Rio Doce, onde grassaram epidemias que dizimaram a população. Alguns sobreviventes migraram para o Aldeamento de Itambacuri, de onde saíram os ancestrais dos Aranãs de hoje, os Caxixó, para o trabalho em fazendas na região do Vale do Jequitinhonha.
Aranã
População: 362 (FUNASA – 2010)
Local: municípios de Coronel Murta e Araçaí
Reserva: Fazendas Campo, Alagadiço, Lorena, Cristal e Vereda
Grupo linguístico:Tronco Macro-Jê
Nota: Exitem pessoas do povo Aranã vivendo em áreas urbanas nas cidades de Araçuaí, Coronel Murta, Pará de Minas, Juatuba, Betim, Belo Horizonte e São Paulo.
Fotografia: Índia Aranã na área rural de Araçuaí. Autoria: Vanessa Caldeira, 2001.
ÍNDIOS ARANÃS.
Os Aranãs compõem uma etnia indígena brasileira. Habitam o estado de Minas Gerais e a população é composta por 362 indivíduos de acordo com o senso (Funasa, 2010).
O povo Aranã é identificado na região do Vale do Jequitinhonha pelas denominações genéricas “índio” e “caboclo”, que constituem o sobrenome e o apelido, respectivamente, das duas famílias que compõem o grupo. A inserção dos Aranã no movimento indígena e sua busca pela identificação étnica é recente, datando do final da década de 1990.
Os Aranã sustentam sua unidade enquanto grupo étnico através de uma regra de descendência que parece privilegiar sempre a inclusão: os filhos de casamentos entre Aranã e não índios parecem ser sempre considerados Aranã. A origem indígena sempre prevalece na identidade dos filhos, independentemente do vínculo étnico apresentar-se ligado à mãe ou ao pai. Este padrão ocorre também nos casamentos entre as famílias Índio e Caboclo: quando um membro da família Caboclo casa-se com um membro da família Índio, os filhos são sempre identificados como Índio; novamente o gênero dos genitores não sendo determinante. Além disto, foi possível perceber que algumas mulheres da família Caboclo ou não índias, ao se unirem a um membro da família Índio, identificam-se, elas próprias, como tais. Torna-se assim compreensível o crescimento populacional recente da comunidade aranã concomitante ao próprio processo de emergência, afirmação e valorização da identidade étnica do grupo.
Pedro Sangê, “índio” sem vínculo societário indígena definido, através do seu olhar para o passado, constituiu as bases de uma comunidade indígena pensada, vivida e sonhada, com uma história própria e com regras específicas de inserção de seus membros. É desta forma que os Aranã se apresentam, enquanto grupo étnico, e que lutam para ser ouvidos e respeitados.
Católicos, os Aranã falam com muito orgulho da função de sacristão que Pedro Sangê exerceu na Fazenda Campo. Em regime de mutirão, eles construíram uma capela naquela fazenda, onde até hoje seus filhos e netos realizam cultos para os poucos moradores.
Dona Terezinha, benzedeira que lidera a vida espiritual aranã, se identifica como católica. Responsável pela abertura de todas as reuniões de seu povo, ela benze seus parentes, canta e reza, e seus sonhos são entendidos como sinais divinos.
Antônio e seu filho Raimundo, conhecido como Mundinho, são os principais responsáveis pelas celebrações católicas dos Aranã. Ao acompanhar o grupo, pode-se perceber a grande importância que tem o calendário litúrgico da igreja católica para a organização de suas cerimônias. De forma intensa, reelabora-se, no contexto da vida religiosa dos aranã, significados próprios de práticas católicas de modo a atender a especificidades da identidade indígena.
Dispersas, as famílias aranã têm nos cultos católicos os principais momentos de sociabilidade do grupo. Referem, ainda, os forrós e os jogos de baralho como suas principais fontes de entretenimento.
O chamego, bebida fermentada obtida de um fruto chamado Quiabinho, é tida como específica dos Aranã e um dos seus marcos de identificação étnica, constituindo-se, deste modo, em um importante elemento de integração na vida festiva do grupo. Incorporada e associada aos encontros indígenas, o chamego envolve atividades comunitárias desde o seu preparo, ao qual todos se dedicam. Conversas e brincadeiras muito próprias da convivência aranã permeiam os processos sociais de confecção e de consumo do chamego.
Ao se inserirem no movimento indígena, com apoio do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), do GTME (Grupo de Trabalho Missionário Evangélico) e do CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), os Aranã deram início ao processo de investigação de sua própria história, ampliando seus conhecimentos acerca da realidade indígena no Brasil contemporâneo. Participando das semanas dos Povos Indígenas em Belo Horizonte, das reuniões do Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais, da Comissão das Mulheres Indígenas do Leste, da Marcha 500 Anos Brasil, entre outros eventos, os Aranã conquistaram seu espaço político e reforçaram a luta dos povos resistentes no país. Histórias foram reacendidas, direitos foram descobertos, projetos de futuro foram redimensionados. O sonho da vida em comunidade ganhou, enfim, perspectivas. Engajados no movimento indígena, os Aranã se organizaram para pesquisar sua história, sua origem étnica e para conquistar seus direitos, sendo o primeiro deles a terra.
Fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/povo/arana
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