O povo indígena Araxá em Minas Gerais
Os Araxás são um grupo indígena dos guaranis que habitavam o estado brasileiro de Santa Catarina nos séculos XVI e XVII. Também foram chamados de carijós e patos.
Até fevereiro de 2008 inexistia prova documental da existência dos índios araxás no Triângulo Mineiro. O pesquisador Tarcísio José Martins encontrou três documentos que provam os seguintes fatos:
Estes índios viviam na margem direita do rio Grande, passagem do caminho de São Paulo. Em 1749, pediram ao governador de Goiás para serem aldeados por jesuítas, sob a proteção do bandeirante paulista Antonio Pires de Campos, o Pai Pirá.
O governador autorizou as despesas, mandou vir dois jesuítas de São Paulo, aos quais autorizou construir, por conta de Pires de Campos, uma aldeia na margem esquerda do rio Claro, perto da barra deste no rio das Velhas. A Aldeia do Rio das Velhas, na margem direita desse rio, hoje Indianópolis, portanto, é outra aldeia, criada em 1750/1751 pelos mesmos jesuítas.
Enquanto isto, em 1750, Pires de Campos recebeu incumbência de ir ao norte da capitania goiana buscar mais índios para os aldeiamentos do Triângulo. Os índios Caiapós, em guerra havia muitos anos com os brancos, aproveitaram-se da ausência de Pires de Campos e de seus soldados índios, e atacaram a nova aldeia. Mataram todos os homens da tribo Araxá. Ainda segundo as correspondências da Capitania de Goiás, os Caiapós levaram as mulheres e crianças Araxás sobreviventes como prisioneiras e as teriam devorado a todas, pois era costume dos Caiapós comer carne humana, mesmo que fosse de outros índios, como atestam estas e dezenas de outras correspondências oficiais da época.
A notícia das três correspondências é pois, do total extermínio da tribo Araxá entre o ano 1750 e começo de 1751. Enquanto isto, Pires de campos, emboscado por outros índios no norte de Goiás foi ferido por uma flecha. O ferimento se inflamou e, quando dava guarda a um comboio que levava o ouro dos quintos de Vila Boa para Paracatu, “na referida diligência faleceu da vida presente, nas ditas minas do Paracatu”, como atestou seu companheiro Antônio de Sá Pereira em 20 de dezembro de 1751. Foi substituído na comandância das tribos aquarteladas no, então, Triângulo Goiano, pelo bandeirante João de Godoy Pinto da Silveira, que continuou a luta contra os Caiapós. Este bandeirante – e não Inácio Correia Pamplona – foi quem dominou os Caiapós e os aldeou em Goiás (aldeia de São José, na região de Serra Dourada, perto de Vila Boa) como atesta Auguste de Saint-Hilarire em 1819 – in Viagem à Província de Goiás, p. 59-72.[1]
Os citados documentos que dão conta do extermínio dos Araxás, trazidos de Portugal para o Brasil pelo Projeto Resgate de Documentação Histórica Barão do Rio Branco, foram publicados pelo Centro de Memória Digital da Universidade de Brasília e podem ser lidos no site da UnB.
fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Araxás
RESGATE CULTURAL
Ele não perde a esperança de montar uma tribo no município, aberta à população e turistas, para preservar e resgatar a cultura indígena, com o cultivo de alimentos orgânicos e plantas medicinais. O seu nome em português é Edson Adolfo da Silva e, o indígena, cacique Karcará-Urú. Como presidente da Associação Indígena Andaiá da Região de Araxá, ele representou não só a região, como os povos indígenas de Minas Gerais na Conferência das Nações Unidas Rio + 20. “Nós somos os povos indígenas chamados não aldeiados, porque não temos aldeia hoje, mas continuamos com a nossa tradição, o nosso trabalho e somos reconhecidos como povos indígenas”, afirma.
Segundo ele, a associação reúne descendentes do antigo povo Katu-auá, conhecido como índios Arachás, que habitavam a região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, de 1400 a 1800, de acordo com dados científicos levantados por antropólogos. “Nós somos remanescentes dos descendentes dos Arachás, são poucas pessoas que sobraram e, então, fundamos a associação”, diz. Edson explica que uma das principais provas dessa remanescência são as histórias contadas pelos antepassados indígenas. “Nossos avós, bisavós, tataravós, inclusive conhecemos toda a história diferente da que está nos livros. Desde antes, como tataravós até os nossos pais contaram pra gente. A cultura é parte da nossa associação, que veio de geração em geração, genuinamente indígena”, afirma.
Ele destaca que os antepassados indígenas tiveram que esconder a sua cultura por causa das perseguições e massacres que ocorreram à época, quando foram praticamente dizimados. “Eles trabalhavam nas fazendas pra amansar burro, cortar madeiras, fazer comidas, mas mantinham secretamente a nossa cultura, os cultos das nossas divindades, os nossos rituais e, principalmente, as plantas medicinais que até hoje a gente repassa às pessoas, assim como a nossa língua”, explica. Segundo ele, teve a felicidade de conhecer o seu bisavó que se chamava Antônio Grande e morava no antigo Barro Alto, hoje o bairro Santo Antônio, além do avô Zé Natalino que morreu com 108 anos. “E ainda meu avó Cassiano Cabrito, que é pro lado da minha mãe, com 87 anos, também tudo povo indígena do Barreiro. E o meu pai que faleceu no ano passado, com 86 anos. Então, tudo o que falamos pra vocês foi passado por eles e a ideia de fundar uma organização já era deles”, conta Edson.
Associação Indígena Andaiá da Região de Araxá
O cacique Karcará-Urú afirma que com a Constituição da República de 1988 houve a abertura para os povos indígenas, não para resgatar, como manter as suas tradições. “Então, começamos a trabalhar em cima dessa abertura, reunimos as pessoas e fundamos a associação que é registrada em cartório e legalizada com tudo, desde 2007. De lá pra cá, primeiro contatamos as outras aldeias indígenas, depois as lideranças e eu passei a fazer parte da Federação Indígena Brasileira, sendo eleito e a minha esposa também, como o primeiro reconhecimento do nosso trabalho, dos nossos povos indígenas, no Brasil todo”, conta.
Ele acrescenta que a sua esposa, Vanilda Francisca, cujo nome indígena é Warknã, hoje é uma das coordenadoras das mulheres indígenas no Brasil e Américas. “Esse trabalho começou muito antes de 2007, quando legalizamos a associação, porque no mundo branco tudo tem que ter legalização. Pra nós, indígenas, a gente não importa muito com isso, meu pai tinha contatos com os povos indígenas e me passou tudo desde criancinha. Sempre vamos e recebemos pessoas indígenas aqui, como os Xavantes e Patachós”, afirma.
Cúpula dos Povos
Edson diz que a sua família sempre manteve esse contato com os povos indígenas, que agora culminou com a sua participação e a de Vanilda na Rio+20, como representantes dos povos indígenas de Minas Gerais. “Nós só participamos da Cúpula dos Povos, um evento à parte da Rio + 20”, explica. Segundo ele, o casal contou com o apoio do governo do Estado no transporte de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro (RJ). “E também da ONU (Organização das Nações Unidas), lá no Rio. Eu tive um grande apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) através da professora Dra. Dalva e do professor Douglas Carrara, que é o coordenador da Biblioteca Chico Mendes e que também é antropólogo. Eu tinha hospedagem paga pelo governo do Estado lá no Sambódromo e, nós ficamos no apartamento dela, em Botafogo, no Centro do Rio, onde fomos muito bem recebidos”, conta Edson.
Ele diz que voltariam de ônibus do Rio de Janeiro através da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mas acabaram conseguindo apoio para ficaram mais alguns dias. “Eles acharam tão bom a gente lá, e participamos de tantos eventos que ficamos mais seis dias e pagaram a nossa passagem de volta de avião. Nós participamos de várias coisas, no Museu do Índio, na Biblioteca Nacional, Cúpula dos Povos, debates internacionais. Aprendemos muito, não só pra ajudar no trabalho da nossa associação, mas de todos os povos indígenas, conforme o nosso documento final”, afirma. Segundo ele, pertence à Federação Indígena Brasileira que articula debates em todo o Brasil. “Esse é o documento base de todas as lideranças indígenas no país, que também serviu de enfoque em nível das três Américas”, destaca.
Segundo ele, Vanilda participou da oitava edição da Feira do Mercosul de Economia Solidária na semana passada, em Santa Maria, no extremo do Rio Grande do Sul. “Essa feira que acontece todo ano é também das Américas, onde a Vanilda está participando inclusive como expositora de artesanato indígena, que é fabricado pelo nosso povo de Araxá. Ela levou vários materiais feitos pelas mulheres indígenas, pelas pessoas daqui, para expor lá na feira”, conta Edson. Ele informa que em Araxá esse material é muito pouco comercializado, inclusive pela falta de espaço.
Tribo Arachás
“Infelizmente, a gente não tem espaço em Araxá, apesar de ter muito fora. A gente está cobrando há muito tempo um espaço indígena em Araxá, inclusive para colocar as peças arqueológicas que estão no museu. A gente gostaria de ter um espaço indígena, onde os turistas e as pessoas da cidade, como os estudantes, pudessem conhecer toda a história contada por nós, que somos remanescentes dos descendentes indígenas de Araxá”, diz o cacique. Segundo ele, ao conhecer o trabalho da associação, o prefeito Jeová Moreira da Costa enviou um projeto de lei do Executivo à Câmara Municipal destinando-lhes uma área no município que não foi aprovado pela maioria dos vereadores.
“Ele ia nos doar uma área, onde hoje é a Fazenda Experimental da Epamig. Na época, ia nos doar 30 hectares e a nossa intenção era a de fazer todo esse trabalho, de ter um local onde poderíamos montar a nossa tribo e utilizar a cultura ambiental, como o cultivo natural da terra, das plantas medicinais, os nossos rituais, conhecimento das línguas, como em Araxá, onde se falava o Tupi antigo, tudo gratuitamente”, conta. Segundo ele, o espaço também iria abrigar as peças arqueológicas achadas na região. “Sendo que mais de 10 mil já foram encontradas na região do Barreiro, comprovando a existência do nosso povo ali”, destaca.
Segundo ele, essa possível doação foi debatida durante um ano e meio pela Câmara Municipal. “Várias vezes, a gente foi lá, depois que o prefeito mandou o projeto. E infelizmente, cinco vereadores votaram contra e quatro a favor. Nós não quisemos desarquivar esse projeto agora em janeiro devido ser um ano político, mas estamos aguardando, a esperança não morreu e a nossa ideia é ter um espaço para nós levar a nossa cultura e tradição, principalmente em relação ao cuidado com o meio ambiente, pois a coisa está critica no planeta terra. As mudanças climáticas, a escassez de água potável e de alimentos é terrível, mais de sete bilhões de pessoas, por isto, também estamos nessa luta”, diz.
Documento base
Um documento com vinte reivindicações levantadas pelos povos indígenas durante a Rio+20 foi elaborado para ser enviado à presidência da República do Brasil, assinado por representantes do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos Indígenas; Movimento Indígena Revolucionário; Acampamento Indígena Revolucionário; Acampamento Indígena Revolucionário; do Estado Brasileiro no Banco dos Réus; Tribunal Popular da Terra; Rede Grumim de Mulheres Indígenas; Resistência Indígena Continental; Centro de Etnoconhecimento Socioccultural e Ambiental Cauyeré.
“Nós, cidadãos da cultura indígena, exigimos que o estado Brasileiro respeite os direitos relacionados à dignidade da pessoa humana; que atue de forma efetiva para que não haja qualquer intervenção empresarial, legislativa e executiva que impactem direto ou indiretamente os nossos direitos, interesses, bens materiais e imateriais e que se houver, que seja antecedida de consulta livre, informada, bilingue e direta sem a intervenção maléfica e maldosa dos gestores da área para aprovação dos interesses econômicos e empresariais em desfavor dos direitos ambientais e étnicos; que a gestão administrativa da assistência indígena seja justa e solidária e que haja prevalência dos direitos humanos nos atos relacionados à esta assistência.
Nós estamos falando de direitos elementares que estão relacionados a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-los e preservá-los para as presentes e futuras gerações. Nós somos Defensores Públicos de Direitos Humanos ambientais, sociais, religiosos, culturais e de territórios do patrimônio nacional e as nossas práticas e atos estão relacionados às condições que asseguram a preservação do meio ambiente e do seu uso sustentável e isso só será possível através de práticas e atos estatais respeitosos à diferenciação cultural; ao bilinguismo; à etnocidade; à diversidade; aos saberes; conhecimentos locais, regionais e étnicos; à cosmologia; à imprescritibilidade; à impenhorabilidade e à inalienabilidade. Por tudo isso, pedimos: (segue abaixo desse texto que abre o documento, as reivindicações especificadas dos povos indígenas no país).”
fonte: http://www.clarim.net.br/noticia/2816
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