Festa de São Benedito
Benedito, o Mouro OFM Cap, conhecido também como Benedito, o Negro ou Benedito, o Africano, mas geralmente chamado simplesmente de São Benedito, é um santo católico que, segundo algumas versões de sua história, nasceu na Sicília, sul da Itália, em 1524, no seio de família pobre e era descendente de escravos oriundos da Etiópia. Outras versões dizem que ele era um escravo capturado no norte da África, o que era muito comum no sul da Itália nesta época. Neste caso, ele seria de origem moura, e não etíope. De qualquer modo, todos contam que ele tinha o apelido de “mouro” pela cor de sua pele.
História
Aos 18 anos de idade, já havia decidido consagrar-se ao serviço de Deus, e, aos 21, um monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis chamou-o para viver entre eles. Benedito aceitou. Fez votos de pobreza, obediência e castidade, e, coerentemente, caminhava descalço pelas ruas e dormia no chão sem cobertas. Era muito procurado pelo povo, que desejava ouvir seus conselhos e pedir-lhe orações.
Cumprindo seu voto de obediência, depois de 17 anos entre os eremitas, foi designado para ser cozinheiro no Convento dos Capuchinhos. Sua piedade, sabedoria e santidade levaram seus irmãos de comunidade a elegê-lo Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo, pois não havia sido ordenado sacerdote. Seus irmãos o consideravam iluminado pelo Espírito Santo, pois fazia muitas profecias. Ao terminar o tempo determinado como Superior, reassumiu com muita humildade mas com alegria suas atividades na cozinha do convento.
Sempre preocupado com os mais pobres do que ele, aqueles que não tinham nem o alimento diário, retirava alguns mantimentos do Convento, escondia-os dentro de suas roupas e os levava para os famintos que enchiam as ruelas das cidades. Conta a tradição que, em uma dessas saídas, o novo Superior do Convento o surpreendeu e perguntou-lhe: ” O que escondes aí, embaixo de teu manto, irmão Benedito?” E o santo, humildemente, respondeu-lhe: “Rosas, meu senhor!”, e, abrindo o manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que suspeitava o Superior.
São Benedito morreu aos 65 anos, no dia 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália. Na porta de sua cela, no Convento de Santa Maria de Jesus de Palermo, se encontra uma placa com a inscrição em italiano indicando que era a Cela de São Benedito e, embaixo, as datas 1524-1589, para indicar as datas do nascimento e de sua morte. Alguns autores indicam 1526 como o ano de seu nascimento, mas os Frades do Convento de Santa Maria de Jesus consideram que a data certa é 1524.
fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Benedito,_o_Mouro
A FESTA DE SÃO BENEDITO
As festas religiosas fazem parte da cultura popular brasileira que ao serem preservadas se constituem, quase sempre, em tradição cultural que faz parte da memória dos grupos sociais que a realizam. Essas festas nos levam a refletir sobre a realidade social e sobre a história de uma sociedade. O processo de continuidade da história desses grupos sociais é o centro da discussão dos autores e estudiosos que pesquisam o assunto. O interesse desses grupos sociais pela sua história é que faz manter acesa, o anseio de dar continuidade às manifestações que afloram seus traços e costumes.
Essas festas religiosas se constituem em expressões do imaginário de cada sociedade e manifestam sua particularidade ligada à representação de ação simbólica, seja na forma individual ou coletiva. As práticas através das quais os agentes manifestam seus valores inconscientes, são representados por uma função simbólica desses rituais. “Esses rituais devem acontecer dentro dos grupos e neles devem ser respeitadas as diferenças e as diversidades, para que possam ser constituídos em elementos expressivos de identificação das manifestações culturais”. (SILVA, 1990. p. 324, 325).
O catolicismo popular que se enraizou no Brasil está marcado por sua origem européia, mas encontrou nas tradições culturais dos grupos africanos que aqui existiam, elementos que deram novas configurações. O encontro da cultura africana com a cultura indígena produziu um modo partilhado de a cultura popular pensar a relação entre o sagrado e o profano.
Quando nos referimos ao catolicismo estamos na verdade nos remetendo a um intrincado sistema de práticas, significados, rituais e personagens que transitam por este universo religioso e que ultrapassam as fronteiras institucionais da igreja e ortodoxia católica. Segundo Steil “Este sistema de práticas se constitui na preocupação de muitos estudiosos, que precisam alocar esforços conjuntos para encontrar formas de manter vivas as manifestações culturais enlaçadas na religiosidade”. (STEIL, 2001. P. 10).
A atuação da igreja católica através das missões foi fundamental no que se refere ao fornecimento dos elementos de controle ideológicos, legitimando o processo de civilização através das ações catequéticas, disciplinarização, controle social e adequação do nativo ao mercado de trabalho. As missões tinham o objetivo de formar os índios para a vida do trabalho. “A desavença entre portugueses e jesuítas contribuiu, consideravelmente, para a introdução da mão de obra africana na Amazônia” (FUNES, 1995. P.45). Era natural a necessidade da implementação da ocupação e do desenvolvimento da região, que a partir de 1721 passara a ter sua administração vinculada à metrópole, incorporado ao domínio português em 1750, através do Tratado de Madrid.
A Alvorada:
Nas páginas seguintes mostraremos as várias etapas que constituem a festa de São Benedito e que ocorrem ao longo de oito dias. A Alvorada dá início à festa de São Benedito. É ela que recebe os romeiros e lhes dá boas vindas. Seu início se dá ás quatro horas e seu término, aproximadamente, ás seis horas da manhã, com uma duração de mais ou menos duas horas. É a partir da alvorada que se encontram abertas às comemorações do padroeiro, onde o conjunto de crenças e as práticas socialmente reconhecidas como católicas são vividas, vivenciadas e partilhadas.
Há alguns anos atrás, a alvorada se constituía de uma caminhada realizada em algumas ruas da cidade, onde os fiéis saíam cantando e convidando a sociedade para participar dos eventos e do festejo do santo. Via-se impregnado nas atitudes das pessoas o respeito e a crença no catolicismo, representado por este santo que é considerado um dos mais milagreiros existentes na religião.
Podia-se também acompanhar a admiração e carinho, expressado por aquelas pessoas que contribuíam com a parte cultural da festa, como é o caso de Rosemiro Rodrigues, da família Castro, de Dona Santa Bentes, de Dona Joana Rocha, de Dona Santa do Carmo, das Irmãs franciscanas (antes A. S. C), dos padres franciscanos, dos catequistas, além dos devotos que eram responsáveis pelos afazeres da festa como: donativos, leilões, brincadeiras, ornamentação e limpeza da ramada etc.
Ao longo dos anos mudanças ocorreram na estrutura do ritual, a modernidade acompanha a nova geração e os traços, costumes, laços familiares e religiosos, transformaram-se em “ausências”. Hoje, tudo está resumido em uma carreata, onde os devotos cantam músicas regionais acompanhadas pelos tambores das escolas, convidando as pessoas para os festejos regados sempre de muitos fogos de artifícios e alguns tragos de bebidas alcoólicas.
A carreata dura aproximadamente duas horas e percorre várias ruas e vários bairros da cidade. Porém não se nota mais aquele olhar esperançoso dos que faziam a alvorada, não se vê mais a fé na transformação social, nem a esperança de uma vida melhor, já que o padroeiro é o “ser” responsável neste intercâmbio entre Deus e o homem. Contudo, continua acontecendo a velha alvorada que dá início às festividades de São Benedito, em Almeirim do Pará.
O Levantamento do Mastro
Após a realização da Alvorada prepara-se o “levantamento do mastro da festa”, que acontece pela manhã aproximadamente entre oito e nove horas. Neste levantamento de mastro tem-se a presença dos padres da cidade (franciscanos que residem em uma casa destinada a eles), das irmãs franciscanas que vivem em um convento, dirigem a Escola Nossa Senhora da conceição e regem aulas à seus alunos), a família Castro (membros da Irmandade de São Benedito), autoridades, religiosos, devotos, estudantes etc.
Nesse encontro o pároco abençoa o mastro e os fiéis, pedindo a bênção e a proteção a São Benedito, para que a festa ocorra em paz. No levantamento do mastro os fiéis se comprometem a contribuir para a realização da festa da melhor maneira possível, se eximindo dos pecados, desfazendo-se das brigas e unindo a comunidade em torno de um só objetivo que é a união dos devotos do santo e membros da igreja católica. A água benta é um dos artifícios da crença popular, onde o padre benze os fiéis jogando essa água em cima do povo. Há, inclusive, um grande alvoroço com expectativa de receber ou não algumas gotas da água benta.
O Arraial
Durante os dias de festa acontece pela parte da noite a celebração de missas na igreja matriz da cidade. Essas celebrações são missas que se diferenciam das outras pela quantidade de fiéis que delas participam e pela discussão de um tema específico para a oportunidade. Esses temas estão sempre relacionados aos temas da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). Dando seqüência à missa, acontece a programação do arraial do santorealizado no “salão paroquial” (prédio pertencente à igreja católica, onde são realizados encontros de catequistas e algumas festas comemorativas da comunidade almeirinense), que ornamentado com palmeiras regionais e enfeitado combandeiras coloridas, abrigam a população que freqüenta a festa do padroeiro.
Iguarias da região e bebidas são servidas aos romeiros e moradores do município, a preços acima do mercado, visando sempre o “lucro” para engordar o caixa do santo. As noites de arraial, além de proporcionarem os festejos do santo, são recheadas de ladainhas, nas residências dos moradores católicos que rezam as novenas para, posteriormente, se esbaldarem na festa dançante, promovendo encontros, namoros, brincadeiras etc.
Nesse ínterim acontecem os “leilões” de animais, de frutas, de farinhas, de beijus, de artesanatos, de presentes e todas as ofertas que membros das comunidades oferecem ao santo, para contribuir com a festa ou para pagamento de promessas feitas quando buscavam solução para algum problema, seja em casos amorosos, em casos de doenças, e até ajuda nos negócios que envolvem dinheiro. Ressalto que no caso dos leilões, ficou marcado na história da festividade o trabalho de Rosemiro Rodrigues que “comandava” esses leilões, deixando caracterizada uma marca própria, que ficou na memória do povo para sempre.
Em anos anteriores a festa possuía atrativos como o “pombo correio” onde o ouvinte pagava um determinado valor em dinheiro para que fosse anunciado seu recado, direcionado á outra pessoa, especialmente os namorados, que desejavam homenagear seus parceiros ou amigos enviando “alfinetadas” para outros colegas. Hoje não vemos mais a tradição do pombo correio. As atrações que encontramos nas festas dos dias atuais são as barracas de camelôs, vindos de outros estados, na “perspectiva” de prosperar financeiramente. Nota-se também a presença de jogos variados, todos montados para “ludibriar” os que se arriscam no jogo. Ainda podemos presenciar a antiga “barquinha”, que driblou as novas tecnologias e é uma das grandes atrações para crianças e adolescentes que freqüentam o arraial.
A Procissão
A procissão configura-se numa caminhada pelas ruas da cidade onde a população de fiéis carrega seu padroeiro em cima de um “andor” (berlinda) construído de madeira, pintado e ornamentado de ramos e flores. O andor é considerado parte fundamental desse traslado, sendo assediado por promesseiros, fiéis e curiosos, que da caminhada participam e que querem carregá-lo. A direção da festa escolhe quatro pessoas para carregar o andor com o São Benedito, mas por motivo da distância e do tempo que dura, a procissão, esses carregadores revezam com outros que ficam de sobreaviso.
Na parte da frente, atrás e próximo ao andor, formam-se grandes pelotões, com milhares de pessoas que tradicionalmente participam na procissão do santo. Vários são os objetivos dos que caminham, alguns para pagar promessas feitas ao santo tempos atrás, outros caminham para pedir paz no mundo, alguns pedem solução para problemas familiares. Assim cada um com seu objetivo, porém todos voltados para receber uma provável bênção de Deus a pedido de São Benedito. Durante a caminhada os moradores que assistiam de suas residências por onde passa a procissão, servem água aos fiéis cansados e com sede. Determinadas pessoas fazem essas caridades para mostrar apreço ao santo, outros pagando suas promessas a São Benedito.
Ao chegar à Igreja Matriz a procissão é encerrada com uma missa campal na praça do centenário que fica em frente à igreja matriz. Essa missa é celebrada pelo pároco da cidade e assistida por grande número de pessoas que, apesar do cansaço, permanecem até o final do evento. Nessa missa muitos fiéis que acabaram de pagar promessas por terem alcançado alguma graça do santo, renovam esses pedidos como forma de manter acesa a chama da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, em Deus pai todo poderoso e em São Benedito.
Algumas das formas que os fiéis utilizam para pagar as promessas feitas são: caminhar descalços na procissão carregando tijolos na cabeça, cortar o cabelo que cresce desde a promessa, transportar miniaturas de barcos na cabeça, carregar cruz nos ombros, fazer o percurso levando consigo a imagem do São Benedito, carregar o filho durante toda a caminhada da procissão etc. a procissão é, portanto, parte fundamental da festa, aguardada por toda coletividade. Nela surgem diferentes formas de confidências com o divino.
A Meia lua
A Meia Lua ou procissão Fluvial consiste num passeio de barcos, realizado em frente a cidade, no Rio Amazonas, onde o santo é levado em um barco, (“o barco do santo”) que é seguido por dezenas de outros barcos de menor porte. Para muitos fiéis este é o momento mais importante da festa do santo. É nessa procissão fluvial que os navegantes e moradores ribeirinhos, que possuem pequenas embarcações, mostram suas devoções de carinhos e respeito pelo santo. Para outros fiéis que não participam da procissão fluvial e apenas observam aqueles que não medem esforços para enfeitarem seus barcos para o momento da “Meia-lua”. Quem possui melhor condição financeira pinta seu barco para a procissão fluvial; já os que lutam com dificuldades e que por isso não podem pintar seus barcos, apenas lavam-nos e enfeitam de bandeiras coloridas, colocando no mastro dianteiro ou traseiro a bandeira com a imagem do São Benedito milagroso.
Lotados de fiéis, esses barcos largam em procissão no Rio Amazonas e servem de apoio ao “barco do santo” que é cedido pelo proprietário para levar a imagem do santo.O “Barco do santo” é um barco especial, seguro e ornamentado. A fé é tamanha que os fiéis lotam essas embarcações desobedecendo ao limite imposto pela capitania dos Portos, colocando, às vezes, em risco a vida de muitos moradores.
Na frente do barco do santo vai a Comitiva que conduz o santo, denominados de “festeiros” (membros da Irmandade de São Benedito), que ao ritmo do Gambá per formado pela Família Castro cantam as ladainhas em louvor ao santo. A procissão fluvial é a despedida dos festejos oferecidos a São Benedito e sinal de que a festa está próxima de seu término. É chegada a hora, portanto, da alegria dar vez à tristeza e vice e versa.
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